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  • Foto do escritorHenrique Girardi

Ajustando o barco em meio a segunda onda

As organizações e a sociedade em geral estão vivendo uma segunda fase dessa grande crise. Na próxima semana o Brasil completará quatro meses desde o primeiro óbito por coronavírus. A curva ainda não achatou e há o risco de aumento expressivo nos números de contaminação e mortes. É difícil fazer qualquer previsão, pois as incertezas ainda são grandes. Contudo, a maioria dos estudos projetam que os números devem dobrar nos próximos meses.


O vírus está se espalhando pelo país e escancarando a desigualdade. Indo das capitais para o interior. Dos centros para as regiões metropolitanas. Dos mais privilegiados aos mais necessitados, colocando em risco muitas populações vulneráveis. A crise vai passar, mas os efeitos são dramáticos para a sociedade. E, certamente, vai demorar alguns anos para a economia se recuperar. A travessia é um ponto chave. As decisões e ações de agora vão influenciar as consequências a curto, médio e longo prazo. É a maior crise de nossos tempos.


Há um mês eu mesmo acreditei que a recuperação seria mais rápida. Contudo, mesmo agora em Julho, ainda não enxergamos a luz no fim do túnel. A luz definitiva será a vacina. Enquanto isso, cabe a sociedade e as organizações administrarem a situação, evitando ao máximo a disseminação do vírus e a super lotação dos leitos de UTIs. Vimos nas últimas semanas um ‘solta’ e ‘aperta’ nas medidas e decretos de Prefeituras e Governos Estaduais. O ideal aqui é a cautela. Já está claro que, em algumas cidades, onde houve a flexibilização por conta de números menos dramáticos, levou na sequência ao aumento de contaminação e ocupação de leitos de UTI. Porto Alegre é um caso concreto. Até então a cidade vinha bem, como um bom exemplo. Em poucas semanas isso começou a mudar. Sem falar nos casos de cidades onde não houve a queda nos números e mesmo assim houve flexibilização.


Os movimentos de restrições e flexibilização serão contínuos, enquanto não houver vacina, a sociedade terá que se acostumar a este novo normal. Os efeitos na economia são profundos. “A economia não é quebrada pelo isolamento, e sim pelo coronavírus”. A projeção do FMI é de queda de 9% na Produção Interna do país e a dívida pública subindo e chegando próxima a 100% do PIB. Comércio e serviços foram, em especial, gravemente impactados. Micro e pequenos empresários estão entre os mais afetados, e há, claramente, dificuldade operacional para o dinheiro chegar até a ponta para aqueles que mais precisam. Os próprios casos de auxílio emergencial viraram mais um escândalo.


O que estou aqui chamando de segunda onda nada mais é do que a continuação e desenvolvimento do vírus. É grande a complexidade da crise. “A pandemia deve começar a ceder só em setembro no Brasil”. Depois de anos sem discussão, a renda básica ganhou força e é um assunto que deve ser amplamente debatido. Mais de 50% da população está desocupada e o desemprego está aumentando. Boa parte desses postos de trabalho não será retomado a curto e médio prazo. A OCDE está projetando uma recuperação dos empregos apenas em 2022 nas economias avançadas. Muitos indivíduos terão que migrar para outros setores e mercados. E uma boa parte encontrará no empreendedorismo uma alternativa de sobrevivência. Uma alternativa dura em meio ao caos.


A dificuldade de caixa é grande. Conforme estudo, mais da metade das empresas que compõem o índice de Governança Corporativa da Bolsa (B3) já não geraram caixa suficiente para cobrir suas obrigações financeiras de curto prazo em 2019 e este ano, com a crise e a queda das receitas, a situação deve ser ainda pior, podendo chegar a 70% das empresas. Agora pense nesse cenário para as empresas menores!


Ajustar o barco em meio a segunda onda é como trocar o pneu com o carro em movimento. É um momento de ajuste ou até mesmo de mudança de rota. Empresas que já estavam em dificuldades ou que já estavam passando por desafios como a digitalização e inovação, terão que encarar essa nova realidade, com um fluxo de caixa ainda mais apertado. Aquelas que não estavam com o tema de casa feito, terão que fazê-lo agora. Os ajustes nas empresas terão que ser grandes diante de uma crise tão aguda.


Vinte anos depois do boom da internet há uma clara consolidação dos meios digitais. Esse período será um marco no desenvolvimento econômico. A retomada econômica será em um novo ambiente. Podemos refletir e discutir sobre as mudanças que ocorrerão, mas, certamente, o grande aprendizado e as grandes mudanças serão melhores percebidas ao longo desse percurso. Fiz recentemente uma live com meu amigo Diego Dornelles, onde discutimos sobre os efeitos da crise e a retomada dos negócios no pós-pandemia.


Sobre os ajustes a serem feitos destaco alguns fatores prioritários. A preservação e cuidado com a saúde continua sendo o ponto mais importante. Em seguida vem a necessidade de análise que chamo de “tamanho do problema”. Cada empresa precisa ter um diagnóstico dos impactos em seus negócios. Quais os impactos na proposta de valor da empresa? Quais os impactos econômicos e financeiros? Qual o tamanho do problema? Quais as medidas de ajustes para reequilíbrio e readequação ao novo ambiente? Onde a empresa era ineficiente e não sabia? Quais pessoas vão ajudar a liderar?


É preciso verificar quais os impactos a curto e médio prazo na proposta de valor da empresa. Alguns impactos foram imediatos, como no caso de adoção de delivery, takeaway e regime de home office. Outros impactos serão sentidos a partir de agora e podem indicar mudanças mais profundas. Junto com a análise da proposta de valor está a necessidade de ter um olhar com foco do cliente. (A diferença entre foco no e foco do cliente. Foco do Cliente, um belo livro de Carlos Teixeira Moreira). Enfim, muitos modelos de negócios terão que ser revistos e ajustados diante desse novo contexto. Desejo a todos uma ótima travessia.




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